outubro 23, 2014

UTOPIA?

A vida corre desabaladamente pelas carreteiras de um país fundado sobre o planalto de uma localidade distante. Todos se alegram quando amanhece o dia e continuam alegres por todo ele. Vem à noite e a alegria muda, mesmo não deixando de ser alegria, fica diferente, pois é o demonstrativo de um dia bem vivido. Cada vivente sabe de suas atribuições, cada um faz exatamente o que precisa fazer, quando termina, se existe como ajuda aquele que está perto dele e ainda não terminou. Todos são felizes, todos gostam de sua forma de vida, todos vivem a sua vida com prazer e fazendo tudo em comum, sem que alguém passe por privações ou necessidades que não possam ser dissolvidas em associação conjunta do grupo. Quero hoje caminhar um pouco nos rumosde Thomas Morus, mesmo tendendo ao absurdo de uma ideia totalmente imaginária para nossos dias, para o homem de nossos dias. Quero pensar na sociedade perfeita a partir de seres humanos perfeitos, assim, pensando, talvez, de modo fantástico, mas rumo ao meu coração seria ideal para vivermos, convivermos e sobrevivermos ante a hostilidade velada da dissimulada hipocrisia crescente e incandescente no mundo hodierno.

Parece uma coisa maravilhosa. Sim, parece, mas não existe este modo de vida. Não existe por alguns motivos, mas o principal deles é a falta de respeito mútuo, traduzindo a falta de amor próprio e pelo próximo. O ser humano egoísta e hipócrita não sabe simplesmente viver. Ele precisa descontar suas frustrações no outro. Ele não busca o melhor para si, e por isso precisa maltratar aquele que caminha consigo nesta vida. Viver é simples, mas os pais não ensinam os filhos a buscar uma vida que tenha a ver com seus desejos e vontades, com seus talentos e dons, com suas inclinações e limitações. Os filhos são ensinados a buscar mais ter do que ser, e isso prejudica todo seu desenvolvimento, que deveria ser natural. Nos mundo antigo o ser humano simplesmente seguia o curso de sua vida. Uns faziam força, outros pensavam, outros lideravam, alguns serviam e etc., só para exemplificar o seguimento natural da vida. Nem todos nasceram para liderar, mas nem todos nasceram para ser liderados. E não adianta que pensemos diferente, a maioria sempre foi e será liderada e a minoria liderará. Nada disso tem a ver com classe sócio econômica. A vida não é uma luta de classes, de clãs ou de castas, a vida é uma corredeira em que cada um se adapta a ela segundo suas inclinações natas.

As dificuldades seculares tiveram seu início quando o ser humano resolveu tomar a direção da vida e determinar a direção da vida dos outros. Isso fez com que tivesse, também, início as injustiças, pois sempre que resolvemos mexer na vida do outro nos tornamos parciais, portanto injustos. Hoje, não somos mais donos de nossos instintos naturais, de nossas vontades provenientes de espíritos livres. Somos escravos das pessoas, da reputação, das convenções sociais e da falta de amor e respeito mútuos. Vivemos pelo e para o outros, nosso caráter pouco tem que ver com nossa forma de vida, vivemos pela reputação, por aquilo que pensam de nós ou que determinam que sejamos ou façamos. Vivemos para fora, nosso coração não nos governa mais, mas sim a sociedade ao nosso redor. Assim, enquanto os mexericos moldam a personalidade flexível do ser humano hodierno, nós nos mexemos para tentar nos desvencilhar daquilo que falam e pensam de nós. Não conseguimos, pois já nos convencionamos a ser para o outro, não para sermos nós mesmos e nos fazermos satisfeitos com quem somos. Os poucos que conseguem, são aqueles que se tornam realmente felizes. O restante vive uma vida árida e sem propósitos.

Não entendo o desejo avassalador de ter de nossos dias, em detrimento do ser feliz. Precisamos nos libertar dos grilhões convencionais para vivermos a nossa verdadeira vida. Do contrário seremos sempre seres frustrados e enfermos por dentro, embora por fora pareça que somos felizes. Precisamos entender que ter opinião própria é a melhor das virtudes do ser humano, mesmo que esta opinião coincida com a de outros. Quando isso acontece formamos os grupos afins e vivemos a vida social mais desejável. Jamais desrespeitando quem não pensa como nós. O respeito reflete o amor no coração do ser humano. Embora tão difícil, deveria ser buscado sempre para que possamos caminhar juntos num mesmo rumo final. Vamos nos unir, não para sermos mais fortes e invencíveis, mas para sermos felizes, sem dominações, sem totalitarismo, sem imposições desrespeitosas, mas por amor a si mesmo e consequentemente ao próximo. Vamos nos unir para defendermos nossos interesses, não porque somos melhores, mas por termos opiniões, e assim podermos argumentando chegarmos a conclusões que sejam obrigatoriamente condutoras do todo.

Portanto, quero encerrar pensando na utopia, talvez, de um mundo perfeito, onde exista amor, carinho, respeito e satisfação em viver entre os afins e aqueles que não caminham no mesmo ritmo, embora no mesmo caminho. Somos todos conscientes de que não somos uma ilha. Sabemos claramente que somos seres ilusória ou instintivamente gregários que nasceram para viver em bandos ou grupos homogêneos ou heterogêneos, mas vivermos no mesmo mundo. Assim, independente do que se pensa, do que se defende, do que se fala, de como se anda, da velocidade de raciocínio ou de caminhada, da inclinação para a força ou para o pensamento ou ambos, se somos pretos, vermelhos, amarelos ou brancos, se somos ricos ou pobres, se defendemos o lado de lá ou de cá, pois tudo na vida tem dois ou mais lados. Definamos que somos todos seres humanos que precisam urgentemente descobrir que somos iguais: somos SERES HUMANOS. Pensa nisso, respeite-se e respeite o seu próximo, isso deve ser o reflexo do amor. Será utopia pensar assim? Então sou utópico, mas quero o mundo de minha imaginação, mais do que o mundo em que vivo hoje.



(Rev. Maurício Ferreira)

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