A vida corre desabaladamente pelas carreteiras de um
país fundado sobre o planalto de uma localidade distante. Todos se alegram
quando amanhece o dia e continuam alegres por todo ele. Vem à noite e a alegria
muda, mesmo não deixando de ser alegria, fica diferente, pois é o demonstrativo
de um dia bem vivido. Cada vivente sabe de suas atribuições, cada um faz
exatamente o que precisa fazer, quando termina, se existe como ajuda aquele que
está perto dele e ainda não terminou. Todos são felizes, todos gostam de sua
forma de vida, todos vivem a sua vida com prazer e fazendo tudo em comum, sem
que alguém passe por privações ou necessidades que não possam ser dissolvidas
em associação conjunta do grupo. Quero hoje caminhar um pouco nos rumosde Thomas Morus, mesmo tendendo ao absurdo de uma ideia
totalmente imaginária para nossos dias, para o homem de nossos dias. Quero pensar
na sociedade perfeita a partir de seres humanos perfeitos, assim, pensando,
talvez, de modo fantástico, mas rumo ao meu coração seria ideal para vivermos,
convivermos e sobrevivermos ante a hostilidade velada da dissimulada hipocrisia
crescente e incandescente no mundo hodierno.
Parece uma coisa maravilhosa. Sim, parece, mas não
existe este modo de vida. Não existe por alguns motivos, mas o principal deles
é a falta de respeito mútuo, traduzindo a falta de amor próprio e pelo próximo.
O ser humano egoísta e hipócrita não sabe simplesmente viver. Ele precisa
descontar suas frustrações no outro. Ele não busca o melhor para si, e por isso
precisa maltratar aquele que caminha consigo nesta vida. Viver é simples, mas
os pais não ensinam os filhos a buscar uma vida que tenha a ver com seus
desejos e vontades, com seus talentos e dons, com suas inclinações e
limitações. Os filhos são ensinados a buscar mais ter do que ser, e isso
prejudica todo seu desenvolvimento, que deveria ser natural. Nos mundo antigo o
ser humano simplesmente seguia o curso de sua vida. Uns faziam força, outros
pensavam, outros lideravam, alguns serviam e etc., só para exemplificar o
seguimento natural da vida. Nem todos nasceram para liderar, mas nem todos
nasceram para ser liderados. E não adianta que pensemos diferente, a maioria
sempre foi e será liderada e a minoria liderará. Nada disso tem a ver com
classe sócio econômica. A vida não é uma luta de classes, de clãs ou de castas,
a vida é uma corredeira em que cada um se adapta a ela segundo suas inclinações
natas.
As dificuldades seculares tiveram seu início quando o
ser humano resolveu tomar a direção da vida e determinar a direção da vida dos
outros. Isso fez com que tivesse, também, início as injustiças, pois sempre que
resolvemos mexer na vida do outro nos tornamos parciais, portanto injustos.
Hoje, não somos mais donos de nossos instintos naturais, de nossas vontades
provenientes de espíritos livres. Somos escravos das pessoas, da reputação, das
convenções sociais e da falta de amor e respeito mútuos. Vivemos pelo e para o
outros, nosso caráter pouco tem que ver com nossa forma de vida, vivemos pela
reputação, por aquilo que pensam de nós ou que determinam que sejamos ou
façamos. Vivemos para fora, nosso coração não nos governa mais, mas sim a
sociedade ao nosso redor. Assim, enquanto os mexericos moldam a personalidade
flexível do ser humano hodierno, nós nos mexemos para tentar nos desvencilhar
daquilo que falam e pensam de nós. Não conseguimos, pois já nos convencionamos
a ser para o outro, não para sermos nós mesmos e nos fazermos satisfeitos com
quem somos. Os poucos que conseguem, são aqueles que se tornam realmente
felizes. O restante vive uma vida árida e sem propósitos.
Não entendo o desejo avassalador de ter de nossos dias,
em detrimento do ser feliz. Precisamos nos libertar dos grilhões convencionais
para vivermos a nossa verdadeira vida. Do contrário seremos sempre seres
frustrados e enfermos por dentro, embora por fora pareça que somos felizes.
Precisamos entender que ter opinião própria é a melhor das virtudes do ser
humano, mesmo que esta opinião coincida com a de outros. Quando isso acontece
formamos os grupos afins e vivemos a vida social mais desejável. Jamais
desrespeitando quem não pensa como nós. O respeito reflete o amor no coração do
ser humano. Embora tão difícil, deveria ser buscado sempre para que possamos
caminhar juntos num mesmo rumo final. Vamos nos unir, não para sermos mais
fortes e invencíveis, mas para sermos felizes, sem dominações, sem
totalitarismo, sem imposições desrespeitosas, mas por amor a si mesmo e
consequentemente ao próximo. Vamos nos unir para defendermos nossos interesses,
não porque somos melhores, mas por termos opiniões, e assim podermos
argumentando chegarmos a conclusões que sejam obrigatoriamente condutoras do
todo.
Portanto, quero encerrar pensando na utopia, talvez, de
um mundo perfeito, onde exista amor, carinho, respeito e satisfação em viver
entre os afins e aqueles que não caminham no mesmo ritmo, embora no mesmo
caminho. Somos todos conscientes de que não somos uma ilha. Sabemos claramente
que somos seres ilusória ou instintivamente gregários que nasceram para viver
em bandos ou grupos homogêneos ou heterogêneos, mas vivermos no mesmo mundo.
Assim, independente do que se pensa, do que se defende, do que se fala, de como
se anda, da velocidade de raciocínio ou de caminhada, da inclinação para a
força ou para o pensamento ou ambos, se somos pretos, vermelhos, amarelos ou
brancos, se somos ricos ou pobres, se defendemos o lado de lá ou de cá, pois
tudo na vida tem dois ou mais lados. Definamos que somos todos seres humanos
que precisam urgentemente descobrir que somos iguais: somos SERES HUMANOS.
Pensa nisso, respeite-se e respeite o seu próximo, isso deve ser o reflexo do
amor. Será utopia pensar assim? Então sou utópico, mas quero o mundo de minha
imaginação, mais do que o mundo em que vivo hoje.
(Rev.
Maurício Ferreira)