dezembro 31, 2013

OS VELHOS SONHARÃO

Estamos no último dia do ano dois mil e treze, trinta e um de dezembro. Hoje é aniversário de minha mãe, setenta e seis anos, vividos com prazeres, alegrias, felicidades, também tristezas, desilusões, desprazeres, infelicidades. Hoje uma viúva, mãe de três filhos naturais e uma adotiva, e de não sei quantos ou quantas mais no coração enorme e gracioso de uma mulher virtuosa e bela. Ela está numa idade avançada, considerada idosa, mas cheia de viço e saúde, dentro das possibilidades de uma senhora dentro da faixa da ancianidade em que está.

Olhando para minha mãe, na faixa de longevidade que se encontra, olhando os demais anciãos sob meus auspícios na Igreja que congrego e sou pastor. Olhando para a grande gama de idosos que militam ao meu redor, cada um com as suas características, com as suas idiossincrasias, olhando o Brasil envelhecido, paro para pensar em como é bom sonharmos. Em como e bom ter-se na mente e consequentemente no coração coisas, fatos, atos que ressoam quando adormecemos e se mostram em nossa vida dormente como histórias boas, sonhos, ou ruins pesadelos, mas que nos fazem sentirmo-nos vivos.

Quando é o tempo dos sonhos? Para o ser humano na terceira idade, seus sonhos são reminiscências de sua vida, infantil, juvenil, adulta e agora cheia de experiências a serem contadas. No entanto, sem um público que pare para ouvi-las, pois o mundo em sua dinâmica ativista não tem tempo de aprender através da vida empírica daqueles que já viveram muito, pois não morreram cedo. Gosto de me sentar com minha mãe, de ouvi-la como ouvia a meu avô, seu pai, que sempre me ensinava algo, ele sempre me dizia coisas importantes, para o hoje de minha vida. Pois ele já passara por tudo que naqueles dias, eu ainda não experimentara, mas que vivo hoje.

Qual é mesmo o tempo dos sonhos? Para o jovem, cheio de planos e alvos em sua vida, são os planos, os projetos, os desejos de um coração cheio de esperanças. Esperanças que o levarão a alcançar as metas traçadas ou não. Esperanças que lhe conduzirão a viver de forma disciplinada, e alcançar seus possíveis “sonhos”, ou viver de forma indisciplinada e frustrar-se diante da impotência imposta pelas decisões errôneas e inconstantes que lhe conduzirão para longe de seus “sonhos”. O jovem sonha com o que pretende alcançar, o ancião sonha com o que já viveu. A Bíblia chama de sonho, real o que os velhos terão em sua existência. E chama de visão o que os jovens chamam de “sonhos”.

Portanto, em minha humilde análise, o tempo dos sonhos não é o último dia de um ano, ou mesmo o dia do aniversário, não é o tempo de olhar para trás e percebendo o que fez de certo ou de errado, traçar metas a serem atingidas, a partir deste tempo. Não é viver o esoterismo de se vestir de determinada cor para alcançar misticamente seus propósitos, ou mesmo as previsões mistificadas de falsos videntes, evidentemente exploradores da crendice humana nata. Mas, é reviver coisas que já se passaram sua vida, e que podem te encher de esperanças, ou até mesmo de desilusão. É reviver didaticamente sua vida para ensinar aos mais inexperientes o quanto é bom viver fazendo o que é correto, tomando as decisões certas, olhando para o mundo com a esperança e o ceticismo que ele próprio nos traz. Então, qual é mesmo o tempo do sonho? O tempo dos sonhos é aquele tempo que temos de inatividade, de não mais viver o ativismo, mas de termos a didática vida e o tempo de ensinar aos mais ativos. Viver é aprender. E viver muito é poder sonhar com o tempo vivido e mostrar o que é bom e o que não é bom na vida. Portanto, poder desfrutar dos bons, áureos e agradáveis momentos de uma vida bem vivida e exemplar, pois não acertamos sempre, mas na vida, certamente acertamos mais do que erramos. Vamos, pois viver bem para sonharmos, e não termos pesadelos quando estivermos no tempo de “sonhar”.

Rev. Maurício Ferreira

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