Parafraseando o poeta contemporâneo Roberto Carlos, "acordei hoje pensando num sonho que tive a noite. E sentei-me na cama para pensar neste sonho". Enquanto ele sonhou que entrou no quintal do vizinho e plantou uma flor, e seu vizinho pressupoz a primavera, eu Sonhei que vivia num condomínio fechado, totalmente cercado por grades e muros altos, que faziam com que me sentisse protegido e seguramente em paz naquele espaço reservado, que presumia primavera. Interessantemente, comecei a pensar nos meus dias de criança. Lá nos antanhos dias de uma infância, adolescência, mocidade e prima idade bem vividos, me via morando em casas sem muros, sem proteção em janelas, sem cercas vivas ou mortas, mas com uma pretensa liberdade para ir e vir. Não se pensava em bandidos como se pensa hoje. Eles estavam lá, mas não na proporção de nossos dias. Eles faziam parte de nossa realidade, mas não faziam a realidade de nossa parte. O que aconteceu conosco?
Brincávamos nas ruas de pega pega, pula pula. Andávamos nas ruas com o que tínhamos, não muito, mas um relógio, uma aliança, um cordão, jóia ou bijuteria, um brinquedo, mas podíamos fazê-lo. Hoje não se pode, em algumas cidades nem aliança usar. O conselho que especialistas sociólogos nos dão é que devemos sair às ruas com o dinheiro do ladrão, para evitar surras, maltratos por parte daqueles que se aproximam de nós para extrair, espoliar o que não lhes pertence. Adquirido com o suor de nossos trabalhos. Interessantemente, ando nas ruas de minha cidade, hoje, e o que vejo são casa gradeadas. Não importa se você vive no segundo andar de um edifício, é preciso grade. Não importa se você vive nos fundos de um estabelecimento, é preciso grades. Além de nossos muros se faz necessário a grade. Não importa o tamanho da cidade também. Que coisa mais pavorosa. Nos dias de hoje não se pode presumir primavera, mas um longo e pavoroso outono e inverno frios de sociabilidade, comunhão e compaixão. Será?
Em nossos dias, simplesmente aprendemos a conviver com o mal, sem reclamar, sem gritar, com medo, com cuidado, mas o pior de tudo, conformados. A criança se torna bandido, e nós vemos o processo acontecer e nada fazemos. O jovem vira meliante facínora e nós vemos e nos conformamos. O velho moço torna-se malfeitor e nós contribuímos. Ajudamos comprando os produtos que ele comercializa. Enfim, infelizmente nós hoje, com nossa omissão social contribuímos para o crescimento da impunidade, e consequentemente para o crescimento do mal feito junto a sociedade.
Voltando às cercas eletrificadas, aos muros altos, que não mais guardam nossos laranjais, nossos pomares recheados de saborosas frutas. E vemos que, hoje o que fazemos é nos conformar com os males dos atuais dias. Nos conformamos com as opções, sociológicas ou não de cada pessoa, em nome do respeito, sem fazermos nada para melhorar o meio em que vivemos. Melhoramos nosso ambiente, o fazemos perfeito para nós e deixamos nosso próximo à sua própria sorte. Cuidamos de nos proteger, mas quem estiver fora de nosso murado e gradeado gueto, terá que buscar sua própria proteção, desde que não seja em nós. Fechamos nossa porta e nos esquecemos do mundo lá fora. Será essa sociedade que Deus imaginou na criação? O que aconteceu conosco? Entramos em nossos condomínios fechados e nos guetilizamos, ficamos longe da realidade de nossas cidades, nos alienamos junto ao comodismos de uma pretensa liberdade guardada, ou segurança vigiada e deixamos que o mundo se arraste na sua devassidão social plena. Pensemos! Devemos nos ocupar com o outro ou somente conosco mesmos? Guetilizar é bom. Nos protegermos também. Mas?
Mas a Bíblia diz que a melhor forma de nos protegermos é não nos conformando com este mundo, mas transformarmo-nos pela renovação primeiro de nossas mentes. É fazermos a vontade do Senhor desde cedo. Vontade que é boa, perfeita e agradável para nós e nosso próximo. Precisamos nos preocupar com o caminho que toma o mundo hodierno, precisamos tentar mudar as situações que nos incomodam. Precisamos nos colocar na brecha. Mas como fazê-lo?
Creio eu que o primeiro passo é cuidarmos da vida infantil. Cuidarmos das crianças em nosso meio de existência. Nos preocuparmos com a situação social do adolescente que vive ao nosso lado, crescendo na região em que vivemos. Nos preocuparmos enfim com as pessoas que nos rodeiam. Você diz bom dia para criança de seu vizinho? Embora isso possa parecer, em nossos dias assédio.Você conversa com seus e demais adolescentes sobre as questões simples e complicadas da vida? Você ensina seus filhos a amarem a todos indiscriminadamente? Você age com a criança de forma natural, como agiria com um adulto, guardadas as devidas proporções? Muitas coisas pequenas poderíamos fazer. Muitas mudanças pequenas são necessárias em nossos corações cristãos. Se você se preocupa com as pessoas ao seu redor, olhe nos olhos do pobre ao seu lado, mas também olhe nos olhos do rico ao seu lado, pode ser que as necessidades de ambos sejam as mesmas. Você pode ajudar! Lembre-se disso. Você sempre poderá ajudar!
Por isso, disponha-se! Não se conformando com a atual realidade. Não se isole, mesmo que more na segurança de um condomínio fechado. Na consistência de uma casa bem construída, pensada nos mínimos detalhes de segurança. Mesmo que para olhar para a rua de sua janela tenha que visualizar antes as grades. Disponha-se! Coloque-se na brecha, disponha-se! Não deixe que as evidências de um mundo deteriorado o vença, não deixe que o fascínio secular do ser humano pelo diabo o convença. Não deixe que os desejos dos homens o dobre. E assim, inconformado com o presente século, deixe ser transformada a sua mente e coração, busque a perfeita, boa e agradável vontade do Criador e lute! lute e lute muito! Pode ser que neste mister a vitória não nos contemple, mas além de nos sentirmos servindo a sociedade em que vivemos, nos veremos tentando apagar o incêndio, como o colibri. Mas não estaremos, simplesmente de braços dispostos em cruz observando a vida passar, sem nada fazermos. Como diz o poeta,"com a boca escancarada, cheia de dentes, esperando a morte chegar". Façamos pelo menos a nossa parte. Deus não nos chamou para ficarmos acomodados com a vida, seja ela boa ou ruim. Não opte pelo ostracismo de uma vida insossa, sem sabor e que não influencia. Deus quer e espera mais de nós.
Quando me lembrei de meu sonho, fiquei lastimoso!
Lastimoso com nosso comodismo ante um depressivo e outonal mundo que caminha, independente de sua visão religiosa, para um caos cada vez maior. A Bíblia diz: “ensina a criança no caminho em que deve andar, e ainda quando for velho velho, não desviará dele.” (Provérbios 22.6). Ensinemos sempre as nossas crianças, até que elas fiquem velhas, e continuemos a ensinar sempre. Se ensinarmos sempre as nossas "crianças" pelo caminho, elas sempre seguirão nele. Que maravilha! Deus nos coloca a solução. A nós nos cabe ccoloca-las em prática a acda dia. Preocupemo-nos com a vida a nosso redor. Socializemo-nos! Amemos!
“E não vos(nos) conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus”. (Romanos 12.2). SDG!
Rev. Maurício Ferreira